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domingo, 22 de maio de 2011

Francis Pisani entrevista o físico Fritjo Capra, engajado na educação ecológica

Francis Pisani, blogueiro e colunista
Francis Pisani, Ph.D., é blogueiro e colunista que cobre TICs na área da baía de São Francisco para diferentes mídias da Europa e da América Latina. Lecionou em várias universidades, incluindo Berkeley e Stanford. Pisani realizou uma entrevista com Capra, o  físico teórico e escritor que desenvolve atualmente um trabalho na promoção da educação ecológica, já citado neste blog. Nesta conversa, Fritjof Capra, permanecendo totalmente coerente com os estudos científicos em que baseia seus trabalhos, transmite muito dos elementos centrais do seu pensamento sobre redes em termos que o público leigo possa facilmente entender.
As entrevistas foram conduzidas e gravadas na casa de Pisani.  Aqui vai alguns trechos da entrevista.
O metabolismo
FP - Vamos voltar para as ciências da vida. A primeira questão no seu primeiro parágrafo é "Quais são as características dos sistemas vivos?" Qual é a resposta mais curta para isso?

FC - Bem, em uma palavra a resposta é metabolismo. Deixe-me guiá-lo através de um pequeno exercício. Se você andar pelos departamentos de ciências da vida e perguntar: "Qual é a característica essencial da vida?", a maioria das pessoas vai indicar que as coisas que estão vivas são feitas de células, e no interior das células encontramos macromoléculas, longas cadeias de átomos - as proteínas, enzimas, lipídios, o DNA e assim por diante. Para tornar ainda mais simples, você pode concentrar-se no DNA e dizer, "Tudo que você tem a fazer é procurar pelo DNA. Se houver DNA é vivo, se não houver DNA não é vivo." O problema com esta definição de vida é que, quando um organismo morre o DNA não desaparece. O DNA é uma molécula, que não é viva em si mesma. Então, nesta cadeira de madeira, por exemplo, a maior parte do DNA da madeira ainda está aí. O meu exemplo favorito é o da equipe de cientistas alemães que estudou o DNA de um crânio de Neanderthal. Estes ossos estavam mortos há uns cem mil anos ou mais e, no entanto, os cientistas foram capazes de mapear a seqüência de genes em seu DNA. Portanto, o DNA não é a resposta. No mínimo, você teria que dizer que precisamos de algo que contém DNA e que não está morto. Mas isso, obviamente é uma tautologia, definir um organismo vivo como algo que não está morto.
Então, a resposta não reside na estrutura da célula, a resposta está no que os filósofos e poetas sempre chamaram de o fôlego da vida. Quando alguma coisa tem o fôlego da vida, ela está viva. Em termos científicos, isso é o que chamamos de metabolismo.
As ciências ambientais e sociais

FP - Citando seu livro: "Os princípios de concepção de nossas futuras instituições sociais devem ser coerentes com os princípios de organização que a Natureza tem desenvolvido /evoluído para sustentar a teia da vida”. .Por que deve ser assim?

FC - Penso que o que é novo na nossa era, no século 21, é que, em tudo o que fazemos, temos de ter em conta o ambiente natural: nós dependemos dele e temos uma influência e um impacto muito forte sobre ele. Isso não foi tão importante nos séculos anteriores, em que a população mundial era pequena e os recursos naturais eram abundantes. Apesar de não ser ‘moralmente defensável’, as pessoas podiam destruir o ambiente de um lugar e mudar-e para um outro lugar, para encontrar um ambiente prístino novamente: ar puro, água limpa e novos recursos naturais. Com a população mundial de hoje, isso já não é mais possível. Tudo agora é interligado, tanto social como ecologicamente.
Portanto temos sempre que levar em conta o ambiente natural, e este é um dos grandes problemas das Ciências Sociais. Elas estão, tradicionalmente, interessadas apenas em fenômenos sociais. Elas tendem a tratar esses fenômenos como se eles acontecessem em um vácuo, e não vêem como é que os mesmos estão ‘embutidos’ nos ecossistemas. Eu sinto, a partir de minha experiência em ciências naturais, que os princípios da ecologia devem ser visto como ‘leis de sustentabilidade’, que são tão rigorosas como quaisquer outras leis naturais. Se continuarmos a utilizar combustíveis fósseis, isso se dará em nosso detrimento, e eventual desaparecimento da Terra. [...]
Abordagem de rede e abordagem de sistemas

FP - Qual é a diferença entre uma abordagem de ‘rede’ e uma abordagem de ‘sistemas’? Você usa os dois termos. Um pode ser mais antigo do que o outro...

FC – A abordagem de sistemas, a mais antiga, se foca nas ‘relações’, em vez de em objetos distintos; e em ‘processos’, ao invés de ‘estruturas’. A abordagem de rede surgiu daí, quando as pessoas se focaram especificamente no padrão de redes.
Mas, de fato, não é inteiramente certo que a abordagem de rede veio depois. Os ecologistas introduziram o conceito de ‘ecossistema’, que foi um grande avanço no sentido de tornar aceitável e divulgar a terminologia de sistemas. Como também introduziram a abordagem de cadeia alimentar e da rede. Da Ecologia, os conceitos ‘modelagem de redes’ e ‘pensamento em rede’ migraram para a Biologia e para diversos outros campos. Isto aconteceu nas décadas de 1920 e 30. Então, poderíamos dizer que a teoria de sistemas e o pensamento em redes realmente surgiram juntos.
Nas décadas de 30 e 40, surgiu a escola de Ludwig von Bertalanffy, chamada de teoria geral de sistemas. Ele foi um biólogo e trabalhou em biologia teórica, com foco em sistemas abertos. Ele foi um antecessor de Prigogine, mas não dominava as ferramentas matemáticas para descrever sistemas não-lineares. Os ciberneticistas não se focaram nos processos fisioquímicos, mas nos padrões, e eles lidaram um bocado com redes.

Para quem se interessou pela entrevista e quer ler mais um pouquinho, aí vai o link:
http://escoladeredes.ning.com/profiles/blogs/entrevista-traduzida

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